Era uma tristeza daquelas que vem sem nenhuma espécie de aviso, em noites sucessoras de um Dia Bom.
Não tinha motivo (além da depressão, tão desnecessário quanto inevitável que o mundo me causa) aquela tristeza de olhar longe e canto de boca baixos, feito bico de criança inconformada. O olho chegou a arder, de tanto tempo que fiou olhando o Nada. Sabe, fazia tempo que o Nada não me ardia.
Já comecei o dia a olhá-lo e pensei em não sair de casa. –olhar o nada pela janela do ônibus, arde ainda mais- pensei.-
Avisei a ela:
-Não vou a aula!
Ela me chamou pra aula dela.
Pensei que vê-la, fosse melhor que ficar com o corpo encolhido na coberta, como o planejado. Respondi que sim, me aprontando rápido e saí. Como já previsto, eu vi o Nada pela janela corrida do ônibus e em algumas pessoas também pude vê-lo.
Ela me viu e sorriu.
Ele, o Nada, se ausentou ao vê-la.
Conversamos um pouco, rimos...o ônibus andava...e quando o nada começou a se aproximar da janela, eu fechei os olhos e encostei a cabeça no ombro dela. Acho que ela nem sabe que afugenta o Nada de mim.
Andamos, comemos, rimos...olhamos uma pra outra com aqueles olhares que buscam uma explicação em braile...
Estávamos agora sentadas, assistindo, e quando meus dedos sentiram sua pele, eles sorriram. Sua mão brincou um pouco com a ponta dos meus dedos e com meu rosto. Foi o primeiro sorriso de verdade sentida daquele dia.
Eu fiquei tranqüila, sabia que enquanto ela estava ali, do meu lado, aquele Nada Triste, não se atreveria a chegar perto. Pela madrugada, ele voltaria de certo, mas sei que fechar os olhos e pensá-la, ajudava a espantá-lo.
(Zana Candido)
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