23 maio, 2011

Nada não...

Era uma tristeza daquelas que vem sem nenhuma espécie de aviso, em noites sucessoras de um Dia Bom.

Não tinha motivo (além da depressão, tão desnecessário quanto inevitável que o mundo me causa) aquela tristeza de olhar longe e canto de boca baixos, feito bico de criança inconformada. O olho chegou a arder, de tanto tempo que fiou olhando o Nada. Sabe, fazia tempo que o Nada não me ardia.

Já comecei o dia a olhá-lo e pensei em não sair de casa. –olhar o nada pela janela do ônibus, arde ainda mais- pensei.-

Avisei a ela:

-Não vou a aula!

Ela me chamou pra aula dela.

Pensei que vê-la, fosse melhor que ficar com o corpo encolhido na coberta, como o planejado. Respondi que sim, me aprontando rápido e saí. Como já previsto, eu vi o Nada pela janela corrida do ônibus e em algumas pessoas também pude vê-lo.

Ela me viu e sorriu.

Ele, o Nada, se ausentou ao vê-la.

Conversamos um pouco, rimos...o ônibus andava...e quando o nada começou a se aproximar da janela, eu fechei os olhos e encostei a cabeça no ombro dela. Acho que ela nem sabe que afugenta o Nada de mim.

Andamos, comemos, rimos...olhamos uma pra outra com aqueles olhares que buscam uma explicação em braile...

Estávamos agora sentadas, assistindo, e quando meus dedos sentiram sua pele, eles sorriram. Sua mão brincou um pouco com a ponta dos meus dedos e com meu rosto. Foi o primeiro sorriso de verdade sentida daquele dia.

Eu fiquei tranqüila, sabia que enquanto ela estava ali, do meu lado, aquele Nada Triste, não se atreveria a chegar perto. Pela madrugada, ele voltaria de certo, mas sei que fechar os olhos e pensá-la, ajudava a espantá-lo.

(Zana Candido)



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